Romeu e Julieta, Quebra Nozes e Hairspray. Maquiagem, figurino e adereços à postos. Frio na barriga, gargalhadas e reflexões. Quem já assistiu alguma peça de teatro com certeza deve entender do que estou falando (ainda mais quem é do ramo como eu). Viver uma experiência teatral é apaixonante e transformador, justamente por ter seu viés político e crítico muito forte, em sua grande maioria.
Confesso que para mim é complicado escrever sobre um assunto tão importante quanto esse sem perder o foco principal, então vou tentar manter uma linha de raciocínio (juro!). Para facilitar, caro leitor, vamos começar pelo início.
O início
Em torno do século VI a.C. (sim, eu disse ANTES), os gregos realizavam rituais em louvor a Dionísio, o deus do vinho e da festa.O Teatro Grego é o irmão favorito da história, mas, se analisarmos friamente a questão, o Teatro esteve presente muito antes dessa data. Na pré-história, as pessoas conversavam imitando sons e gestos, uma forma rudimentar de representar papéis.
Mas agora vamos voltar para o Teatro Grego. O título da Grécia como terra natal do teatro, se deu graças à Téspis, um homem que (ao participar desses rituais de adoração) decidiu colocar uma máscara e fingir ser Dionísio, conversando e interagindo com a galera toda. Sem perceber, este homem grego criou a arte e o instrumento da representação: o teatro e o ator.
No geral, a estrutura teatral naquela época (falando de outras culturas) era muito semelhante, sendo ao ar livre e em construções semicirculares. O “palco”, como é conhecido hoje, era chamado de “orquestra”, e a “platéia” era a “arquibancada”. “Palco”, naquela época, era onde os atores se preparavam para as manifestações, o que hoje conhecemos como “camarim” e “coxia“.
Diferencialmente do Teatro Romano, o Grego tratava de assuntos religiosos, enquanto o outro valorizava mais o entretenimento (o que deu origem às lutas entre gladiadores e animais). Depois da queda do Império Romano, na Idade Média, o teatro foi banido por um tempo da Europa graças ao catolicismo, que considerava esta arte uma heresia. Quando voltou a acontecer, o Teatro Medieval foi utilizado como ferramenta de propagação cristã, apresentando histórias bíblicas e sendo apresentado por membros do clero (enfim, a hipocrisia).
Quando os BR’s entraram no meio
Ainda movido pela ideia de catequização, o nosso primeiro contato com o Teatro também foi com a intenção de propagar a fé cristã. Os jesuítas, quando chegaram aqui, usaram desta arte para ensinar a religião correta para os índios (e colonos). Foi só quando Dom João VI chegou com a família que as coisas começaram a mudar, mudando de Teatro de Catequese para o teatro como um entretenimento à nobreza.
Como o brasileiro gosta de um deboche, no século XIX, surge a vertente da comédia de costumes, um gênero baseado no humor satírico e caricato. Mas, foi só no Teatro Realista que as peças voltaram a ser críticas. Foi nesta expressão que começaram a representar assuntos políticos, econômicos e moralistas.
Teatro, a voz da sociedade
Lá por volta de 1930 que começam a surgir as primeiras companhias nacionais de teatro, mas foi só na década de 40 que essa expressão ganhou mais força e visibilidade, com peças como Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues (♥). Em 1953, surge então o Teatro de Arena, com um posicionamento revolucionário frente à Ditadura Militar, obra de atores como Augusto Boal.
Durante a Ditadura Militar, muitos artistas foram perseguidos, torturados e mortos devido à censura governamental. Mesmo com a repreensão política, os artistas mantiveram a cabeça erguida e enfrentaram (com muita coragem) o governo. Foi justamente nessa época que o teatro nacional passou a ser reconhecido pelo mundo.
Vou cortar esse tópico por aqui, caso contrário essa matéria seria maior que a cara de pau do Bolsonaro, e você, caro leitor, não terminaria de lê-la.
A cultura do teatro vai muito além de sua origem meramente representativa e religiosa, ela passou de necessidade comunicacional pré-histórica para a voz do povo para o povo, uma aliada que luta, critica e olha nos olhos dos problemas sociais enfrentando-os e apontando seus erros para o mundo perceber.
Tem uma frase que representa muito a essência teatral (e que eu amo muito) que vale a pena ser citada:
“Se você estivesse levando a sério minhas brincadeiras de dizer verdades, você teria ouvido muitas verdades que insisto em dizer brincando.” – Charlie Chaplin.
Pra matar a saudade
Quer sentir uma aproximação com o mundo teatral durante a pandemia? Assista o filme Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência” (sim, esse é o nome do filme), um longa metragem que explora a direção de cena mantendo a câmera fixa durante todo o filme, trazendo a sensação de presenciar uma peça (sentando na melhor cadeira). Além disso, esse filme traz para a discussão muitos temas polêmicos, defendendo um posicionamento crítico do diretor, se assemelhando muito com o movimento comentado anteriormente.
