Como sabemos, no último dia 8 de março foi celebrado o Dia Internacional da Mulher. Hoje, conhecemos a data como um dia comemorativo, mas você sabe quando isso começou? – eu também não sabia.
O dia das mulheres possivelmente começou no dia 26 de fevereiro de 1909, em Nova York. Naquele dia, cerca de 15 mil mulheres marcharam pelas ruas da cidade por melhores condições de trabalho. Na época, as jornadas de trabalho podiam chegar até 16 horas por dia, seis dias por semana, e não seria estranho se incluísse o domingo também.
Com o movimento das mulheres crescendo pelo mundo todo, o que se esperava era uma jornada de manifestações pela igualdade de direitos, sem exatamente determinar uma data para isso. Em 1917, ocorreu um forte marco nessa história, quando um grupo de operárias saiu às ruas para se manifestar contra a fome e a primeira guerra mundial. O protesto aconteceu dia 23 de fevereiro pelo antigo calendário russo, o que seria 8 de março no calendário gregoriano, que é utilizado pela maioria dos países atualmente.
A data só foi oficializada pela ONU em 1975, quando a organização intitulou como Ano Internacional da Mulher.
Quase um século depois das primeiras manifestações por direitos iguais, ainda nos deparamos com uma enorme desproporção de gêneros no mercado de trabalho, além de um alto número de discriminação e assédio contra as mulheres.
Mesmo diante de tantos impasses, ainda assim elas conquistaram uma boa parte do mercado de trabalho, e sua participação vem crescendo cada vez mais. Buscando entender melhor essa disparidade, entrevistei algumas mulheres que atualmente estão ativas no mercado de trabalho.
No início da entrevista, a primeira pergunta foi se elas consideravam que as mulheres possuíam participação igualitária em processos seletivos. Como sabemos, é essencial ter um bom desempenho no processo seletivo para ingressar no mercado de trabalho. A maioria das respostas foi que, devido ao modelo estrutural da nossa sociedade, as mulheres acabam não tendo a igualdade de acesso, se comparada aos homens. Isso se torna nítido quando reparamos na diferença salarial entre os gêneros. Mas, nem sempre é assim. Ainda há processos seletivos, como concursos públicos, onde não é possível distinguir o gênero e sexo de quem realizou a prova, tornando a correção mais igualitária.
“Já tive oportunidade de participar de alguns processos seletivos para cargos administrativos, por exemplo, e a exigência era de homens com mais de 30 anos, julgando que idade e sexo refletiam em mais respeito. Essa é uma percepção implícita na maioria das pessoas.”
Bianca, 30, RH/Neurolinguística e Publicidade
A segunda pergunta foi em relação à remuneração da mulher no mercado de trabalho. Mesmo ocupando cargos semelhantes aos homens, as mulheres ainda recebem menos na maioria das profissões. Segundo as entrevistadas, ainda há uma enorme injustiça em relação à remuneração. Mas, já vemos empresas modernas e culturalmente mais igualitárias que prezam pelo equilíbrio de gêneros nos cargos e estão preferindo cada vez mais mulheres nas ocupações de liderança.
“Acho que isso muda dependendo da cultura de cada empresa. Acredito que, em maioria, ainda é de forma injusta, porque empresas modernas e com uma cultura igualitária ainda são minoria.”
Fernanda, 26, Gerente de Marketing
“No Brasil ainda é desigual, isso é estatística. Mas observo que todo o movimento de empoderamento feminino, e por óbvio atrelado a condições e possibilidades que as mulheres têm hoje que não tinham no passado, tem mudado aos poucos essa desigualdade. Sou otimista em relação a isso, mas é um processo, e não será da noite para o dia. Tem que ter luta, muita educação básica e novas políticas.”
Ana Carolina, 30, Empresária
Segundo a Forbes, mulheres em cargos de liderança mostram mais eficiência durante uma crise, como por exemplo, a que estamos passando agora (pandemia – COVID-19). Quando perguntado às entrevistadas, elas concordaram com o assunto. Com respostas semelhantes, descreveram que as mulheres respondem melhor à situação de pressão pois tendem a ter decisões mais criativas, onde conciliam a razão a sensibilidade.
“Eu concordo! Também já li que mulheres na política desenvolvem políticas públicas sociais mais eficientes, e que a taxa de corrupção é muito menor quando uma mulher ocupa um cargo político. Nós temos um olhar multifuncional. Ao mesmo tempo que somos mais sensíveis aos estímulos de um local, temos um olhar mais atento, somos fortes emocionalmente, temos criatividade para resolver problemas. Então com certeza concordo, faz muito sentido!”
Yasmin, 24, Vereadora
Mas nem sempre essas virtudes são relevantes para aqueles que estão contratando. Alinhado ao modelo estrutural do mercado de trabalho, as empresas buscam pessoas que sejam integralmente disponíveis e tenham tempo de dedicação ao trabalho. Diversas fontes relatam que mulheres que possuem filhos são cada vez mais penalizadas em virtude disso.
“Não concordo com a ideia de que as pessoas precisam viver integralmente para o seu trabalho, ao contrário, a saúde mental e física da trabalhadora requer a sua satisfação em várias áreas da vida, não apenas o trabalho. Em relação às mulheres serem penalizadas pela escolha de ter filhos, concordo, porque muitas vezes as empresas não têm políticas de auxílio e incentivo às empregadas que “optam” a ter filhos.”
Lissandra, 47, Docente
Outro tópico abordado na entrevista foi o crescente número de discriminação e assédio sofrido pelas mulheres dentro do ambiente de trabalho. Mesmo que diversas leis trabalhistas tenham sido criadas desde o início da luta por direitos iguais – comentada no início do texto – ainda nos deparamos com muitos casos como esse. Infelizmente, é algo que está diretamente relacionado ao modelo estrutural da sociedade, que vem melhorando com os tempos, mas ainda não chega nem perto do ideal.
Por fim, como essa coluna se encontra em um Portal Universitário, questionei se elas já haviam participado de alguma Atlética, e como isso teria impactado suas vidas. O mais legal das respostas foi ver que todo esse processo que diretores e membros da Atlética vivenciam durante a faculdade não é em vão. Além de ajudar você a desenvolver várias qualidades, pode fazer com que você seja um profissional extremamente qualificado no mercado de trabalho.
“Fui diretora de eventos da atlética, e hoje tenho uma empresa nesse setor. Fui presidente, e isso me trouxe todo o aprendizado da gestão de pessoas, liderança no mercado de trabalho, organização e planejamento, conhecimento de gestão financeira. Para além disso tudo, que já é muita coisa, fui à comissão organizadora de jogos locais e estaduais, e me proporcionou uma noção de coletividade, amizade, parceria, e sobretudo me abriu os olhos para a força e competência da juventude. Hoje sou Vereadora na minha cidade, e com isso concluo que foram infinitas as contribuições que a Atlética me trouxe!”
Yasmin, 24, Vereadora
O principal objetivo dessa entrevista foi proporcionar a vocês uma matéria que sirva para ampliar o debate e a reflexão sobre esse assunto. As mulheres vêm conquistando cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho – coisa que já deveria ter acontecido há muito tempo – mas ainda há muita luta pela frente. Como universitários e futuros integrantes do mercado de trabalho, cabe a nós lutarmos por um mundo mais próspero e justo a todos. Como seres humanos, temos o dever de lutar pelos direitos iguais, seja no mercado de trabalho ou em qualquer área de nossas vidas.
Capa: Imagem Ilustrativa (editada). Fonte: welovesalt.com