A importância do desafio de baterias

Para entender o porquê as baterias treinam, ensaiam e se dedicam tanto para uma apresentação que dura de 10 a 20 minutos, temos que voltar no tempo, lá na origem do samba para conseguirmos entender bem, e manter viva sua historia e suas origens. ~Senta que lá vem história~

Bateria Carniceiros – Interbatuc 2019

Segundo historiadores, o samba surgiu com os pretos escravizados na região do recôncavo baiano, ainda na era colonial do Brasil, se dava por uma mistura de ritmos de batuques trazidos pelos escravos e ritmos europeus. Com a abolição da escravidão e a instituição da republica, uma grande parcela da população escrava foi para a capital da republica, o Rio de Janeiro. E assim como a capoeira e o candomblé, o samba não era bem visto pela sociedade burguesa, por ser cultura africana, marginalizados assim os “ex” escravos realizavam suas comemorações e festas nas casas das “tias”, que eram mães de santo que acolhiam os seus semelhantes.

Em 1917 foi gravado o primeiro samba, “Pelo telefone” com letra de Mauro de Almeida e Donga, assim começou a se desenhar o samba como conhecemos hoje. O samba não é um só, ele tem diversas variantes, como samba de roda, samba-canção, samba-exaltação, samba de gafieira e o pagode. O samba enredo é uma dessas variantes e é daí que nós amantes de B.U tiramos nossa inspiração.

Bateria Ritimão – Desfile das escolas de samba grupo especial São Paulo 2020

Como de costume, eu sempre converso com alguém expert na área para me ajudar a trazer o conhecimento e experiência a vocês. Nessa conversa trouxe meu professor e uma das minhas principais inspirações e referência no tamborim, Arthur Santos, criador do Pagaragadá.

Arthur qual é sua história no samba e com quantos anos começou a tocar?

A minha história no samba começa no final dos anos 90, pra ser mais preciso em 1997. Com apenas 4 anos de idade começou a minha história dentro da minha Faculdade do Samba Barroca Zona Sul. Aos 5 anos de idade iniciei a minha trajetória na bateria tocando tamborim. 

Na época o mestre de bateria era o “Mestre Bagulé” e no caso meu padrinho de batismo, nessa época por ser muito criança tinha as obrigações escolares, e o Bagulé era muito rígido com isso, todas as crianças da bateria não podiam ter nota “vermelha” e com isso a primeira nota baixa que eu tive na escola eu já estava no 2º ano do ensino médio.

Qual o desfile que você leva consigo no coração?

O desfile mais marcante pra mim foi em 2002, quando fomos campeões do grupo de acesso do carnaval paulistano. A Barroca fez um lindo desfile e me lembro que no desfile das campeãs a ala de tamborim deitou no chão da avenida.

Tenho também um desfile que carrego sempre em meu coração, Vai Vai 2015 com o tema “Simplesmente Elis” onde levamos o título do grupo especial e um desfile emocionante.

Como os mestres e ritmistas de escolas de samba veem os desafios de baterias universitárias?

Hoje em dia é visto com bons olhos, pois os desafios apresentam uma complexidade muito grande em bossas, a criatividade da galera da BU ajuda muito nas inspirações dos mestres.

Qual a diferença que você vê entre ritmistas de escolas de samba e ritmistas de B.U?

Hoje eu trabalho com bastante ritmista de BU e a maior diferença entre a galera do samba, é o comprometimento dos universitários. Você passa uma bossa ou arranjo de tamborim eles param para estudar. A galera do samba é um pouco mais “largada” nesse ponto rs.

Porém a galera do samba tem aquela malandragem, swing e tal e o pessoal da BU faz uma melhor execução mas em várias vezes acabam não tendo aquele swing por ser muito educado musicalmente.

Bateria Furiosa – Acadêmicos do Salgueiro

Para nós ritmistas aprender a tocar o básico de um instrumento de percussão leva-se meses e até anos, claro que depende do seu esforço, como sabemos não é fácil tocar um tamborim a 145bpm (cry in samba language). Em um desafio o número de bossas, desenhos, levadas, ritmos (e cópias rs) são quase incontáveis, assim como as horas de estudo e dedicação dos ritmistas.

O samba é um patrimônio e orgulho pra nós brasileiros. Nos desafios de baterias mesmo que indiretamente ajudamos a manter e perpetuar nossa cultura, por isso temos que ter muito respeito por toda essa história que já foi escrita, pelos mestres, ritmistas, intérpretes, entre outros. Bateria universitária não é bagunça, lógico que as pessoas de B.U. são famosas por serem um pouco doidinhas, mas é que o samba mexe com a gente de um jeito inexplicável.

Bateria S/A – Balatucada 2019

Se seu amigo ritmista só quer saber de tocar e curtir, mande pra ele essa matéria, diga a ele pra ver um pouco da história do samba. A todas as B.U’s desse Brasil deixo uma dica, não seria legal acrescentar na escolinha dos calouros um pouco da aula de história do samba e dos seus instrumentos? Para que os próximos ritmistas saibam do peso e deem valor naquilo que estão se iniciando.

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