Por dentro do rolê: a música de Detroit!

Seguindo a série de textos da Cheers Ticket, partimos de Berlim para Detroit. Confereaê:

Da capital alemã, palco de importantes acontecimentos históricos, vamos para a emblemática cidade fantasma norte americana e motivos não faltam para essa conexão direta. Enquanto Berlim sofria com as consequências da segunda grande guerra, Detroit, capital do estado de Michigan, se firmava como um dos principais pólos industriais mundiais por ter intensificado sua produção bélica no período. Aliás, um dos fatores que contribuíram para a derrota nazista na 2ª Guerra Mundial foi a grandeza do poderio industrial norte americano. Porém, a industrialização de Detroit já havia se iniciado anos antes.

A capital de Michigan era a representação plena do sonho americano, desenvolvimento tecnológico e uma próspera economia fizeram de Detroit um polo industrial focado na industria automobilística. O desenvolvimento do setor automotivo rendeu à cidade o apelido de Motor City, ao abrigar a sede das gigantes mundiais General Motors, Ford e Chrysler. Naturalmente, o crescimento econômico da região e a grande geração de empregos atraíram massivas migrações, preponderantemente da população dos estados sulistas do país. O crescimento populacional e econômico de Detroit atingiam seu auge ao final da década de 50.

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Como tudo que atinge seu auge, a decadência econômica e social de Detroit veio e nós vamos tentar entender como isso aconteceu e porque exatamente estamos falando disso. Afinal este não é mais um blog sobre economia. Nos anos 50, metade dos carros vendidos no planeta eram produzidos em Detroit. Essa liderança passa a ser ameaçada pelo processo de globalização representado pela entrada da indústria automobilística japonesa no mercado norte americano. Aliado à este processo, a crise do petróleo em 1973 sacramenta a recessão econômica no país. Para se manterem competitivas e caminhar junto a globalização, algumas empresas sentem a necessidade de pulverizar seus centros de produção, retirando boa parte de suas plantas não só de Detroit, mas dos Estados Unidos.

A descentralização da produção industrial é o início da decadência social em Detroit. As taxas de desemprego na cidade, juntamente com a desigualdade social e a violência crescem exponencialmente, culminando em um êxodo populacional gigantesco. Como se não bastasse, outro problema social desencadeava o propósito da coluna de hoje, a segregação racial. O racismo é uma pauta problemática dos Estados Unidos desde o período colonial. Durante a recessão econômica, a população negra de Detroit, que cresceu consideravelmente na década de 50, sofreu intensa descriminação e dificuldades maiores para encontrar emprego e moradia. O ápice desta tensão ocorreu em 1967, em que um conflito racial na cidade termina com 43 mortos e mais de 7.000 presos.

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Em meio ao cenário caótico de violência e abandono, a válvula de escape de grande parte da população de Detroit foi a música. Sim, a música. Em contraponto à produção industrial intensa da cidade, a música da capital de Michigan sempre foi destaque mundial, lançando nomes como Michael Jackson, Stevie Wonder, J Dilla, Maddona e Eminem. Porém estamos falando de algo mais revolucionário nesse sentido e como toda revolução, períodos de intensa tensão política, social e econômica são necessários para criação de algo notório para a sociedade. Nesse cenário surge o Techno, um dos gêneros musicais mais promissores da atualidade.

Na época, o prefeito Coleman Young permitiu que Detroit fosse tomada por clubes noturnos. Sob forte influência da música eletrônica de Kraftwerk e de vertentes da música negra, três amigos (Juan Atkins, Derrick May e Kevin Saunderson) inspirados pelo clima industrial de Detroit, começaram a fazer o que chamamos hoje de Techno. Juan Atkins deu o nome ao gênero e foi preciso ao explicar que o avanço tecnológico e as condições de vida na época foram determinantes para a esta revolução sonora. É o ápice da arte como retrato social e ferramenta de expressão pessoal.

Hoje, a indústria do techno já movimenta anualmente mais de 7 bilhões de dólares e está voltada, principalmente, para o mercado europeu, se distanciando da sua origem negra. Festivais de música eletrônica têm seu público, majoritariamente, composto por jovens brancos de classe média/alta. O gênero está difundido mundialmente, tendo ninguém menos que Berlim como uma de suas capitais. A cidade alemã gera para sua economia cerca de 900 milhões por ano promovendo o turismo em torno do techno. E esta representa uma grande possibilidade de reinvenção para Detroit.

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A Motor City sofreu por décadas a partir da recessão econômica até que, em 2013, declarou falência. Sua população reduziu pela metade em 50 anos. Bairros completamente inabitados e prédios abandonados renderam à cidade um caráter fantasmagórico. Atualmente, após declarar falência, a capital de Michigan ensaia um renascimento econômico. Uma das iniciativas é que, por meio do turismo musical, a cidade possa voltar a crescer. O prefeito Mike Duggan se mantém em contato com grandes nomes da música eletrônica para transformar a cidade em destino turístico.

A cultura prospera, museus e festivais já estão atraindo à atenção do mundo artístico para Detroit novamente. O calendário oficial da cidade conta com a Techno Week, semana onde se promove o gênero musical. O festival Movement incendeia a cidade com três dias do melhor da música eletrônica, trazendo nomes como Richie Hawtin, Octave One e a brasileira Anna. O MOCAD (Museu de Arte Contemporânea de Detroit), localizado no centro da motor city, reúne amantes de todas as artes em um ambiente imerso em performances e intervenções artísticas. Enquanto o Instituto de Artes de Detroit esbanja um acervo colossal com mais de 100 galerias. Dentro elas, é possível encontrar a homenagem de Diego Rivera para a capital de Michigan, trazendo seu passado de potência industrial e que hoje respira (e inspira) arte.

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