O futebol chegou oficialmente ao Brasil em 1894, vindo de uma regularização da federação inglesa, o esporte chegava ao país tropical com fortes características de um esporte elitista, de forma que era praticado apenas por rapazes da elite brasileira, normalmente descendentes de famílias europeias, que tinham contato com o futebol durante o período de escolarização realizado em solo europeu.
Porém, com o passar do tempo, o futebol foi criando uma relação com o Brasil que excedia o limite territorial e em poucos anos já era comum a prática do esporte bretão em várzeas, praias e campos baldios das cidades brasileiras.
Rapidamente o futebol começou a fazer parte da rotina do Brasil, com isso, a prática do esporte pelos brasileiros se tornou inerente, a bola de futebol estava para o brasileiro, assim como a água estava para um peixe, não dava para manter um longe do outro. Dessa forma o esporte que teve características elitistas em seus primórdios, em três décadas passou a ser uma representação popular e um lugar de expressão do brasileiro.
Chegamos ao ponto máximo desse esporte, três copas do mundo em doze anos, Pelé, Garrincha, Santos, Maracanã lotado, tudo levou ao conceito do Brasil como o local onde era jogado o futebol arte. Jogadas plásticas, partidas históricas, jogadores geniais, títulos inéditos, dribles históricos, tudo isso era a representação do jeito de jogar futebol do brasileiro.
Foi quando veio a globalização, levou nossos maiores craques para jogar no continente europeu e em troca deixou uma série de siglas que aos poucos fomos aprendendo a respeitar.
Rapidamente, deixamos de admirar as belas jogadas do time do Santos na década de 60, Flamengo da década de 80, para nos encantarmos pelo Milan em 1990, Barcelona, Manchester, Real Madrid nas décadas seguintes, cada vez mais nosso gosto pelo futebol foi se tornando globalizado e o que está aqui, em baixo dos nossos narizes, cada vez mais passa despercebido.
O nascimento do futebol universitário no Brasil e a nova esperança das raízes futebolísticas.
Com a explosão esportiva que anda acontecendo nas faculdades e universidades do Brasil, a prática esportiva voltou a ser algo presente e constante no universo popular da sociedade brasileira e o maior esporte do mundo, o futebol anda tendo nesses locais uma oportunidade de resgaste das suas origens.
Algumas características do futebol jogado nos campeonatos e nas ligas universitárias comprovam esse resgate e vou explicar melhor as 3 principais:
- Torcida local
Em tempos de globalização da informação e do futebol, é cada vez mais comum a relação das pessoas com traços culturais de outros locais, com isso a torcida por times de outros países tem se tornado uma característica do povo brasileiro. Quer ver um exemplo? O PSG vende o mesmo número de camisas no Brasil e na França, sabendo disso não deu outra: o time de Paris resolveu adotar um uniforme reserva amarelo, em homenagem aos jogadores brasileiros e a torcida que há no Brasil.
A situação muda completamente nas universidades, a torcida é completamente local e próxima, tendo uma relação direta com a faculdade ao qual o indivíduo faz parte. Dessa forma, a sensação de pertencimento que era comum do começo do caminho no futebol no Brasil volta a aparecer, pois a relação que a torcida tem com a atlética é algo muito íntimo e próximo.
Muitas vezes os torcedores também são jogadores, diretores, fundadores e sócios das atléticas, o que atribui um valor ainda maior à relação que é construída entre arquibancada e campo de jogo. De forma que a vitória ou a derrota passam a ter um papel pessoal para cada participante de um jogo de futebol universitário.
- Amor à camisa
O futebol moderno virou um produto do mercado, jogadores são vendidos por valores astronômicos para os maiores rivais e de um dia para o outro estão defendendo as cores dos adversários. Não cabe aqui nenhum juízo de valor, entendo que é a profissão deles.
Entretanto, o amor à camisa antes era observado em quase todos os times. Identificação do jogador com a torcida, com o clube, relação que extrapolava o contrato de trabalho e dava pra ser notada no campo, hoje em dia são raros os casos.
Amor à camisa hoje está nos jogadores dos times das AAA’s. Não há nenhuma relação financeira entre o jogador e a instituição, o interesse é todo do indivíduo em representar aquela atlética, fazer parte de uma possível conquista, vestir a camisa e poder ser parte desse mundo.
Assim, a relação construída entre jogador e instituição é verdadeira, íntima, é como se realmente fosse a segunda pele e o sentimento extrapola as quatro linhas, a camisa da atlética para um jogador de futebol passa a ser sua segunda pele.
- Futebol “raiz”
Jogadores que não entram em campo por motivo de gripe, empates em 0x0 sem emoção, mala branca, 4-1-4-1, jogos sem torcida, todas essas características são marcantes do futebol no brasileiro atualmente e não fazem parte do universo futebolístico da Universidade.
Jogos emocionantes, jogadores jogando até a última força, 10×10 no placar, torcida jogando junto com o time, chuteiras pretas, se você for em algum jogo de futebol em algum campeonato de futebol universitário irá encontrar alguns desses requisitos. O futebol raiz, aquele que era jogado nos campos de várzea antigamente, é hoje um espelho para o futebol universitário que se tornou uma representação do desejo do brasileiro estar de corpo e alma ligado ao futebol.
Importância do futebol universitário
É importante lembrar que em alguns países que já levam o esporte universitário a sério, as federações profissionais percebem as universidades como a base para o profissionalismo, ou seja, o berço para grandes atletas.
Para quem está presente nesse universo, esse seria um caminho perfeito para uma melhoria das condições gerais do esporte. Entretanto, ao mesmo tempo é no futebol universitário a última chance do amadorismo, do amor à camisa sem a pretensão financeira.
Portanto, o futebol universitário é a última flor do lácio do futebol brasileiro, todas as características que representavam o esporte que culminou na sua popularização e na ampla identificação dele como um aspecto social, hoje são percebidas em um jogo de futebol entre duas atléticas diferentes.
A última esperança de toda a representatividade que o futebol arte foi para o Brasil é hoje depositada no futebol universitário e por isso os campeonatos têm ganhado cada vez mais valor.
Gostei bastante do conteudo 🙂 Muito massa! kk